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Árvores da Vida, letras hebraicas e o Tarot

Em razão de certos eventos em minha vida pessoal, me vi diante da necessidade de rever os conceitos da Árvore da Vida e, em especial, a distribuição das letras hebraicas ao longo de seus caminhos.

Embora retrate a Criação, a Árvore da Vida é um diagrama que permite ser empregado nos mais diversos campos da vida humana. Atualmente, é largamente utilizado na Psicologia como um mapa de funcionamento da psique.

A Árvore da Vida faz parte da Cabala que, algumas correntes postulam tratar-se de um conhecimento universal, ponto de vista que compartilho. Há consenso quanto à distribuição e disposição e significados das dez esferas (Sephiroth), mas o mesmo não ocorre em relação às ligações entre elas.

O Hermetismo e as Tradições Mágicas do Ocidente tomaram um manuscrito chamado “Os 32 Caminhos de Sabedoria”, escrito em algum momento do século XIII. Para os judeus, entretanto, os 32 Caminhos de Sabedoria estão descritos no Sepher Yezirah, atribuído a Abraão ou a Moisés em algum momento no século XV aec.

Ao invés de compreender as raízes da Árvore da Vida, as Tradições Ocidentais reinterpretaram a Árvore da Vida para adaptar os Arcanos Maiores do Tarot ao diagrama. O resultado é bastante confuso e, mesmo comparando-se com o manuscrito original, torna-se ainda mais anacrônico.

A maior parte da bibliografia de Tradição Ocidental ou Tarot se baseia nesta Árvore da Vida adaptada, popularizada pela Aurora Dourada no início do século XX.

As Fontes

O Sepher Yezirah é uma versão mística da Criação como descrita em Gênesis e portanto, pode até se referir a uma tradição ainda mais antiga, pois sabe-se que os judeus criaram a sua cosmogonia a partir das tradições existentes na Babilônia, quando estiveram cativos. Para os acadêmicos, no entanto, o Sepher Yezirah foi escrito no século I.
Outro manuscrito importante surgido no início do século XII é o Sepher HaBahir ou simplesmente, Bahir. Essencialmente, trata dos mesmos temas do Sepher Yezirah, embora de maneira mais alegórica.

No século XV, surge o Zohar, ainda mais alegórico e críptico.

Para os judeus, estes três livros são a base de toda a estrutura da Cabala e, consequentemente, da Árvore da Vida, o diagrama que representa todas as interações possíveis no Universo. Há pouquíssimas discrepâncias entre estes três livros, surgindo muito mais como resultado de algumas interpretações pessoais.

A Árvore da Vida

“A Década que veio do Nada” é representada por dez esferas (Sephiroth), cada um correspondendo a um estágio da Criação. Está arranjadas e numeradas sequencialmente de 1 a 10 com poucas divergências quanto a sua representação:

  • Os vértices de um triângulo com base para baixo.
  • Os vértices de dois triângulos com base para cima.
  • Uma esfera isolada abaixo de todos os triângulos.

É possível inserir os Luminares e os planetas visíveis neste arranjo, que por ter alguma existência física, pode ainda ser associado às direções do espaço.

As esferas são os elementos mais importantes da Árvore da Vida. Contudo, no arranjo do Tarot, corresponde às Cartas Numeradas dos Arcanos Menores, claramente mascarando a importância dos Sephiroth.

As ligações entre as esferas é feita a partir de um arranjo determinado e assim, surgem 22 Caminhos principais associados às letras hebraicas.

As letras hebraicas estão distribuídas em três grupos:

  • Três letras-mães.
  • Sete letras duplas.
  • Doze letras comuns.

Para os judeus, as letras são o espírito do Eterno em ação.

O Sepher Yezirah dedica um capítulo inteiro à descrição do papel, importância e localização das três letras-mãe. Aleph é a letra alocada ao coração ou peito; Mem, ao peito; e Shim, à cabeça. Quando transpomos para a Árvore da Vida, Shim liga as esferas 2 e 3; Aleph, 4 e 5; e Mem, 7 e 8.

hebrew_avAs letras duplas correspondem aos sete dias da semana, entre outras coisas. Na Árvore da Vida, são representadas nos caminhos verticais.

As letras comuns correspondem aos meses do ano ou Signos do Zodíaco e são representadas nos caminhos diagonais.

Descrição semelhante é encontrada no Bahir.

Um estudo das letras hebraicas permite perceber a sua importância, bem como, compreender o arranjo simples, lógico e racional de sua distribuição na Árvore da Vida (diagrama ao lado). Porém, o arranjo popularizado pela Golden Dawn demonstra, no mínimo, falta de entendimento do papel das letras hebraicas e, particularmente, a sua distribuição na Árvore da Vida.

Tarot

Sabe-se que a numeração dos Arcanos Maiores bem como, o seu arranjo na Árvore da Vida são totalmente aleatórios, como demonstrado por W. G. Gray. Uma análise detalhada do conjunto de Tarot elaborado por A. E. Waite reforça esta tese, pois as imagens dos seus Arcanos Maiores não correspondem aos caminhos que a Aurora Dourada lhes atribuiu.
W. G. Gray redistribuiu os Arcanos Maiores a partir de suas imagens e significados ao longo da Árvore da Vida, embora utilizando o arranjo das letras hebraicas da Tradição Ocidental.

Tarot, Números e Cabala tem origens diferentes e não deveriam ser reunidas num mesmo arranjo. Mas, uma vez que se admita a existência de uma Sabedoria Ancestral que tenha norteado a Tradição, pode até ser possível fazer esta combinação.

Porém, mais estudos são necessários para estabelecer as corretas associações entre os Arcanos Maiores e as letras hebraicas. No arranjo de W. G. Gray, os caminhos horizontais, de baixo para cima, correspondem aos Arcanos Roda, Justiça e Julgamento; Mem, Aleph e Shim, respectivamente. Mas é preciso estudar mais.

Nota: Este estudo será desenvolvido ao longo do curso de Arcanos Maiores do Tarot.

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