Resenha: Tarot Universal Dali

Ganhei da minha esposa o maravilhoso Tarot de Salvador Dali. Gosto demais deste artista porque ele foi capaz de criar sua arte “fora da caixa”. Uma pesquisa em sua biografia revela um profundo conhecedor da história e da filosofia da Arte, com valores extremamente profundos e arraigados a respeito de suas produções, o que se estendeu ao Tarot.

O autor o criou em meados da década de 1970 como edição limitada e autografada. É composto de colagens de obras artísticas do Ocidente que remontam desde a Antiguidade, adaptadas á sua própria visão dos Arcanos Maiores e Menores do Tarot. Assim, num primeiro momento, é possível viajar pelas obras de outros autores percorrendo o imaginário das 78 lâminas que o compõe. Frequentemente usou de personagens da nobreza europeia retratados em pinturas expostas em museus.

Dali não se prendeu ao gesso ocultista, mas ofereceu uma visão alternativa, inquisitiva e de crescimento espiritual, que surge inclusive nas difíceis lâminas do naipe de Espadas. Transcendeu os significados tradicionais desenvolvidos por A. E. Waite com sua perspectiva de olhar além do comum ou do habitual, como é característica de sua Arte.

Para aqueles que estão acostumados aos sistemas da Golden Dawn ou de William G. Gray, deparar-se-ão com um novo conjunto de atribuições. Dali compreendeu a linguagem simbólica do Tarot e a estendeu para uma visão transformativa.

Observe a imagem do Diabo, de autoria do próprio Dali. Note que a figura hermafrodita está de perfil e em movimento, guardando semelhanças com o Louco. Porta um bastão com uma borboleta e tem uma sombra (que representa os tabus) atrás de si. dali desenvolve o caráter transformativo que certos indivíduos tem junto à sociedade rompendo com os padrões vigentes á medida que surgem com conceitos absolutamente novos. Portanto, transcende o imaginário da crise que antecede qualquer decisão e parte para o resultado esperado deste Arcano.

O Louco de Dali não se encontra à beira do precipício. Mas também porta uma borboleta e tem uma sombra atrás de si (que representa seu eu espiritual). Portanto, para o autor, as ideias de ambos os Arcanos se conectam por meio das imagens.

O Seis de Copas é normalmente associado à amizade verdadeira. As Cartas Numeradas Seis remetem ao conceito de troca, de dar e receber. Dali explora o conceito da ambiguidade contida nas relações humanas. Esta é a única lâmina do conjunto do naipe de Copas cujas taças contém flores. Preferiu explorar o tema das crianças, indicando que o adulto deve se permitir a inocência e a pureza desta fase da vida. Os pássaros são os representantes da inconstância e um lembrete de que é preciso perseverar no caminho espiritual se você quer mesmo conquistar este plano da existência. A criança retratada é Marie Louise Elisabeth Vigeé-Lebrun, que viveu no século XVIII e exposto no Museu do Louvre.

Observe a imagem do Dez de Espadas, uma das lâminas mais difíceis, que retrata a morte e qualquer fim doloroso. Vários autores exploraram o tema do renascimento, incluindo um crepúsculo no centro geométrico da imagem. Dali retratou a morte de Júlio Cesar, traído por seus pares e enfocando a ideia de que mesmo pessoas instruídas e que se dizem amigas (e talvez justamente por isso) têm mais possibilidades de desejar o seu fim. A visão positiva e construtiva desta lâmina, oferecida por Dali, é a percepção de que o espírito está além de todos os modelos de sucesso e prestígio da sociedade e talvez seja necessário “morrer” para esta última como forma de “ingressar no reino dos céus”.

Assim, além de nos proporcionar uma belíssima aula de História da Arte Ocidental, também nos “puxa a orelha” lembrando que basta ver o mundo ao nosso redor com outros olhos para alcançarmos as belezas e as delícias do mundo espiritual que, habita antes em nós, ao invés de se encontrar em algum local particular.

Você pode encontrar todas as imagens das lâminas deste Tarot no site Tarot.com.