Arquivo

Posts Tagged ‘diabo’

Três representações de Lúcifer/Saitan

11/07/2015 1 comentário

Este artigo é um complemento ao artigo principal Breves Reflexões sobre os Anjos, onde você encontrará minha visão pessoal a respeito da Criação, dos Anjos e de Lúcifer.

As origens das imagens do Tarot são extremamente controversas, dando margem a inúmeras especulações. Não há dúvidas de que a Igreja interferiu em algumas das imagens, tornando-as menos pagãs e melhor associadas à religiosidade cristã da Idade Média. O Tarot de Marseille é a primeira referência existente no Ocidente, com respeito ao conjunto das imagens dos Arcanos Maiores do Tarot.

Ainda assim, é possível encontrar traços da representação de Lúcifer/Saitan em três lâminas:

diabo_merlin Diabo: Trata-se de uma associação excessivamente óbvia com Saitan. Nas culturas celta e nórdica, estava associada ao Green Man, uma espécie de guardião da floresta e que não permitia que ninguém entrasse em seu reino sem permissão. A posição da mão do Diabo é tipicamente a de um policial. Esta lâmina, mesmo representando uma crise ou um impasse, encontra-se fortemente ligada à sexualidade. Note que o casal nu e acorrentado ao cubo (na representação de Rider-Waite) é o mesmo que encontramos nos Enamorados, antigamente associado ao casamento sagrado (Hyerogammus) realizado por uma sacerdotisa. O papel do guardião da floresta era receber os convites para a festa deste casamento, de fato, um ritual de fertilidade. Saitan é aqui a serpente do Éden, que estimula a criatividade através de uma crise onde se busca uma solução criativa através do conhecimento, algo que os antigos associavam à prática da sexualidade sagrada.

morte_marselhaMorte: A morte é o principal adversário da vida, muitas vezes, ceifando-as a seu bel prazer através de epidemias, guerras ou outros tipos de violências muito comuns em nossos dias. Porta uma foice, instrumento que se assemelha ao símbolo do planeta Saturno. Chronos, Senhor do Tempo, era eventualmente retratado portando uma foice. Waite desenvolveu um imaginário associado à regeneração e à supressão das vaidades. Chronos foi destronado por Zeus com a ajuda dos Titãs, inaugurando a Era de Ouro da Humanidade. Nossos “corpos de barro” envelhecem, deterioram-se e perecem graças à ação do tempo, castigo imposto a Adão e Eva quando expulsos do Paraíso por terem comido do “fruto proibido”. Na realidade, não tiveram oportunidade e tempo para experimentarem do fruto da outra árvore…

eremita_rwEremita: Uma pessoa de idade, no cume mais elevado de montanhas geladas, portando um bastão e protegendo uma fonte de luz do vento com o seu manto. A luz é obviamente associada ao saber e ao conhecimento. Em Thot Tarot, o Eremita porta um ovo contendo espermatozoides, numa clara alusão à magia sexual, de natureza criativa, regeneradora e transformativa. Lúcifer é o portador da luz divina, seu papel era transmiti-la aos seres espirituais abaixo de si. A distribuição da luz polarizada ocorre na lâmina seguinte, Hierofante. Portanto, o Eremita corresponde ainda à fase de Lúcifer antes da Queda. Esta abordagem, entretanto, suscita a possibilidade do Hierofante ser Lucífer ou algum preposto após a Queda.

Colaborou: Diego Viana.

Samhain e os Três Mundos

A espiritualidade das antigas culturas pagãs considerava a existência de três mundos, um “acima” e outro “abaixo” do nosso próprio mundo. Tanto os Mundos Superior e Inferior são habitados por deuses, com atribuições diversas conforme sejam do mundo “acima” ou do mundo “acima”.

Imagem1Existem algumas variações e, posteriormente, os seres associados aos quatro elementos passaram a ser associados ao Mundo Inferior. Com respeito a este mundo, nas culturas nórdicas, não era para onde iam os que haviam morrido heroicamente em combate, pois Valhalla fica em Asgard, reino de Odin, semelhante ao Céu cristão. Entre os celtas, no entanto, o reino dos Ancestrais era encontrado no Mundo Inferior.

Há muitas semelhanças entre o arranjo cosmológico da cultura celta e da cultura nórdica. A Árvore de Yggdrasil era uma árvore colossal que ficava no centro do Universo, com vários mundos ao seu redor. Essencialmente, era composta de três planos.

Em Vita Merlini, de Geoffrey of Monmouth, Taliesin ensina que todas as forças do Universo podem ser comparadas a dois dragões que brigam entre si, sustentado todas as forças anabólicas e catabólicas existentes nos três mundos. Esta imagem também existe na Cabala, representada pela Árvore da Vida e seus dois pilares.

Uma análise mais apurada permite colocar os mitos de diversas culturas de locais diferentes do planeta numa única perspectiva e dão a impressão de se tratar de um ensinamento muito antigo, ancestral ou arcano, que pode remontar à origem da humanidade. Se verdadeiro, os mitos são de fato a História da humanidade e não alegorias simbólicas.

Imagem2O diagrama ao lado funde estes “mitos” representando os Arcanos Maiores do Tarot e sua distribuição pelos três Mundos. Por ocasião do Samhain, que ocorre entre os dias 30/10 e 02/11, estes três Mundos parecem funcionar como um só. Diz a Tradição, que os véus entre os Mundos deixa de existir. É a origem das festividades de Todos os Santos (Mestres do Passado) e dos Mortos (Ancestrais).

Note que os arcanos Diabo (Guardião) e Morte tornam-se os portais de acesso ao trânsito entre os Mundos. O Imperador e a Imperatriz são os portais de “regresso” da experiência de transitar entre os Mundos. Neste diagrama, o Sol se encontra no centro e representa a consciência divina em cada um de nós. Observe que o Abismo não se encontra representado, pois deixa de existir por ocasião da festividade de Samhain.

Para os antigos Druidas, era uma ocasião especial, onde ocorriam as iniciações aos seus Mistérios, uma espécie de “Ano Novo Sagrado”.

Não é à toa que Torre e Força são os Arcanos que promovem o equilíbrio entre os mundos. A Torre destrói as vaidades e livra de todas aquelas coisas materiais desnecessárias para a existência. A Força é a verdadeira Ars Magna do poder equilibrado e justo.

Outras relações ainda são possíveis. Entretanto, no âmbito deste artigo, gostaria de me fixar apenas nas características mais importantes a respeito desta importante festividade.

Uma análise do triângulo da crise

A linguagem simbólica da Árvore da Vida, quando ilustrada pelos Arcanos do Tarot, se mostra extremamente rica e bastante elucidativa. Há inúmeros níveis de interpretação e nem sempre é necessário permanecer nos planos místicos ou espirituais.

Ao estabelecer uma correspondência entre a Árvore da Vida, as letras hebraicas e os Arcanos Maiores do Tarot, utilizo-me do sistema elaborado por William G. Gray. Veja Tarot, Números e Cabala para uma maior compreensão do conjunto.

Particularmente o triângulo representado nesta imagem ao lado se mostra bastante clara. Nos vértices, encontramos as esferas Honra (Mercúrio), Beleza (Sol) e Rigor (Marte). Os lados deste triângulo são o Carro, o Guardião (Diabo) e a Torre.

A esfera de Mercúrio é aquela que trata do aprendizado ou desenvolvimento de uma habilidade específica com a finalidade de ingressar ou participar na sociedade. Tem cunh0 intelectual.

Desta esfera, partem dois caminhos. O Carro dirige-se para o Sol, que representa a Universalidade. Neste Arcano, a imagem mais importante se encontra no centro da carta e é o condutor. Normalmente, é uma lâmina que fala do domínio ou controle dos instintos para se atingir uma finalidade. Tanto nesta lâmina como no Sol o risco é a arrogância. De uma perspectiva mundana, representa a especialização e o aperfeiçoamento de técnicas ou tecnologias bem como, o desenvolvimento científico, como também, o poder adquirido por estes meios. É o caminho de Ayn e esta letra hebraica se relaciona com os olhos: mantenha-os abertos para contemplar a beleza do Sol.

O outro caminho que parte de Mercúrio é o Guardião, também conhecido como Diabo. Seu papel é oferecer uma barreira natural contra os avanços indiscriminados da ambição e desejo de poder. Trata-se de um portal, pois permite saltar entre mundos. Forma uma espécie de divisão entre o mundo individual e o coletivo. O Guardião gera uma crise de valor e lhe pergunta se quer mesmo ultrapassar aquela barreira, se quer mesmo ingressar num mundo onde a individualidade perde parte de sua importância. Corresponde à letra hebraica Mem, associada à fluidez da água, especialmente aquela dos oceanos. A ideia é clara: é preciso dissolver o ego para atravessar para a outra margem.

Este caminho leva à esfera de Marte ou Rigor. Representa a justiça dos Homens, onde cada paga (ou vale) pelo que produz ou pelo que é, dependendo do caso. Na maior parte das vezes, esta esfera é punitiva, pois tem como finalidade restringir o tamanho do ego e reduzir o indivíduo a uma coletividade em razão do bem comum. Muitas vezes, funciona como uma espécie de filtro reparador de injustiças sociais, ocasionalmente infligindo dor.

Se não houver senso comum e um pensamento que abarque a sociedade, deixamos o ego, a ambição, o desejo de poder prevalecerem sobre os principais atributos que levam à contribuição social. Aí você (ou a sociedade) trilharão o caminho da Torre. Ela serve para derrubar de uma só vez o que não tem valor, especialmente o que for de natureza material. Seu significado se encontra associado a graves perdas, falência e separações dolorosas. É um caminho bastante difícil de ser percorrido. A letra hebraica Lamed tem o desenho (e representa) uma antiga arma de guerra utilizada pelo povo hebreu.

O fato é que estamos num limiar tecnológico bastante avançado, mas que não tem compartilhado seus benefícios à toda a sociedade. Com isso, instala-se a crise com a qual nos debruçamos desde o final dos anos oitenta.

Só há uma saída: rever os conceitos que animam o mercado e o mundo corporativo.

A crise é o Diabo

Normalmente, associa-se esta lâmina a todos os tipos de crise, especialmente as de natureza conjugal e afetiva.

A atual representação deste Arcano é um Diabo chifrudo sobre um cubo, ao qual estão acorrentados um homem e uma mulher, ambos nus. Na maior parte dos tarots, o fundo desta carta é preto ou escuro.

Primeiramente, é bom considerar que esta é uma representação com forte influência da Igreja, pois as imagens primitivas contemplavam a figura de um deus da floresta.

Bem, uso o sistema de William G. Gray, que associa as letras do alfabeto hebraico corretamente às lâminas do tarot, sem se importar com os números que os acompanham. Com isso, a lógica e a clareza dos Arcanos Maiores fica restabelecida. E este Arcano passa a operar como uma espécie de ponte entre os mundos, como um portal, ligando as esferas Honra (Mercúrio) e Rigor ou Justiça (Marte). De fato, seu título anterior era Guardião.

Vamos juntar essas duas idéias, pois elas tem relação direta com o que estamos passando atualmente. Diabo, Torre e Morte formam o grupo dos Três Libertadores. mas libertar do quê? Do materialismo, do mundo da substância, de tudo o que nos aparta dos valores elevados ou espirituais, que nos afasta da universalidade e do compartilhamento. São três Arcanos difíceis, que a maior parte das pessoas não gosta de lidar.

O Guardião diz “Pare!”. Pergunta se há realmente certeza nos passos seguintes, se o que você (ou a humanidade) quer de fato o que vem depois, que é transformação e ruptura, falência.

Ou seja, olhando para os acontecimentos em torno, as graves dificuldades econômicas vividas pelos países da Europa e EUA, o desemprego e a falta de crescimento econômico, o clima de crise fala exatamente da necessidade de parar. Parar de consumir, de explorar e de compartilhar… porque o que se segue é naturalmente a quebra do sistema financeiro e uma falência generalizada no comércio e na indústria… bem… e então, o desemprego.

A letra hebraica correspondente é Mem e se refere à água, especialmente aquela dos oceanos e das marés. É um caminho de muitos perigos, uma vez que costumamos subestimar a a força da água e seu papel na formação tanto da vida, mas também, na formação dos continentes e relevos. A elevação do nível dos mares colocará em risco várias cidades e ilhas no mundo. Crise novamente, relacionada ao aquecimento global.

Pare! É preciso deter a máquina!